FERNANDO
RODRIGUES
DE
BRASÍLIA
Depois de um longo período sem se manifestar sobre
marketing político, o publicitário Duda Mendonça voltou a falar. Absolvido no
processo do mensalão e com seus bens liberados pela Justiça, ele falou com
exclusividade ao "Poder e Política", programa da Folha e
do UOL, sobre cenários para 2014.
Para Duda, a presidente Dilma Rousseff é a favorita
para se reeleger no ano que vem. Mas e se houver segundo turno? "Eu acho
um risco para a Dilma". Do seu jeito, ele explica: "Para quem está
hoje com 70% de popularidade, não faz sentido não ganhar no primeiro turno.
Significa que tem alguma coisa que está mexendo aí". Ele se refere à taxa
da aprovação pessoal da presidente em algumas pesquisas. No Datafolha, a
administração dilmista é aprovada por 57%.
Duda está com 68 anos. "Eu amadureci",
diz. Os últimos sete anos foram consumidos em grande parte para se livrar do
processo do mensalão. Agora, ele tem negócios no Brasil, em Portugal e na
Polônia. Deve voltar a campanhas políticas no ano que vem. Pode ser o
marqueteiro de Paulo Skaf, da Fiesp, que pretende disputar o governo de São
Paulo pelo PMDB.
Duda enxerga como "risco maior" para
Dilma na corrida presidencial o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).
Por quê? "Ele é realmente novo. Ele é a surpresa. O Aécio [Neves] já tem
muito tempo aí. A Marina [Silva] também. Já não são novidades".
Marqueteiro que elegeu Paulo Maluf prefeito de São
Paulo (em 1992) e Luiz Inácio Lula da Silva presidente (em 2002), Duda enxerga
nas manifestações de rua de São Paulo e em outras capitais uma insatisfação
difusa da população, "ainda mais quando tem uma eleição de presidente por
trás".
"Não estou dizendo que tem um cunho
eleitoral", diz ele. Mas "a eleição é uma coisa que mexe muito com o
país. Mexe muito com as pessoas pobres. Mistura tudo. É uma emoção só".
Mesmo que o país esteja hoje melhor do que há 10 ou
20 anos? "Depois de quatro anos, depois de oito anos, as pessoas se
habituam com as conquistas. Querem outras. Na hora que elas sentem que qualquer
coisa mexeu, elas esquecem um pouco tudo de bom que elas ganharam. Querem
mais".
Desde 2005, quando deu um depoimento bombástico na
CPI que apurou o mensalão, revelando ter recebido dinheiro no exterior, Duda
nunca mais falou com Lula. "Se houver um momento em que a gente possa
sentar, bater uma bola, tomar uma cerveja, é óbvio que eu gostaria", diz.
"Mas não basta eu gostar. Precisa ele gostar também", diz. "A
vida dele levou para um rumo, a minha levou para outro".
A seguir, trechos da entrevista, concedida no
último dia 12:
Folha/UOL - Como está a sua saúde?
Duda Mendonça –
Duda Mendonça –
Está bem. Atravessei momentos delicados. Tive um
problema no olho. Meu médico achou que devia fazer uma ligeira intervenção de
laser. Um olho está já bem direitinho, limpinho. O outro, não. Há tempos eu fiz
[a operação a] laser para deixar de ter óculos.
Ele [o médico] fez um olho para longe e um olho
para perto. Eu tenho um olho para [ver de] longe e um olho para perto. Funciona
maravilhosamente bem. Há 13 anos que não uso óculos nem para longe nem para
perto. Tudo funciona bem. Agora, começou a dar irritação. Um tipo de vermelhão.
E aí, ele [o médico] resolveu fazer uma ligeira intervenção.
Há alguns anos, houve um problema no coração mais
sério?
Muito grave. Não cheguei a ter um infarto. Mas, com
as agonias todas desses últimos tempos, seis, cinco anos atrás, fui parar no
Sírio [Hospital Sírio Libanês, em São Paulo]. Não cheguei a ter infarto, mas
acabei botando duas pontes de safena e duas mamárias.
E nunca mais teve problema no coração?
Graças a Deus, não. Não cheguei a ter infarto. Deus
me ajudou, passou. De lá para cá, tenho estado muito bem.
Qual é a sua leitura sobre essas manifestações de
rua nos grandes centros, sobretudo em São Paulo, contra o aumento da passagem
de ônibus?
Isso é a democracia. As pessoas têm o direito de se
manifestar contra aquilo que acham errado, contra aquilo que incomoda. Contra
aquilo que bate no bolso, sobretudo. Agora, é lógico que sempre no período de
eleição essas coisas ganham uma dimensão...
Mas a eleição não é só no ano que vem?
Não. A eleição está na rua. É só você ler os
jornais. Pega a Folha para você ver. A eleição está na rua.
Ainda mais quando tem uma eleição de presidente por trás. Acelera a eleição de
governador, acelera a eleição de deputado. Então, o calor está na rua.
Essas manifestações têm algum cunho eleitoral?
Não estou dizendo que tem um cunho eleitoral. Estou
dizendo que, exatamente neste momento, um aumento na passagem de ônibus atinge
bem o povão. O que acontece? Aí, cabe ao governador, o ao prefeito, aquele que
aprovou a lei ou que foi colocar a medida em lei fazer um estudo que ele [o
aumento nas passagens] vale a pena. É importante fazer aquilo? Vai atingir a
população mais pobre. Vale? Essa é a única maneira? Eu não sou governador.
Nunca fui prefeito. Eu não sei. Mas eles sabem o que vai acontecer. Às vezes, é
necessário, é a única forma. Se começa com a inflação, ele [o governador,
prefeito etc.] entra com essa medida.
Agora, ele deve estar esperando ou deve dar
explicações para a população que convençam que é a única forma. Veja, é assim:
a eleição é uma coisa que mexe muito com o país. Mexe muito com as pessoas
pobres. Mistura tudo. É uma emoção só.
O Brasil é hoje melhor do que há 10 ou 20 anos. Mas
às vezes a população fica insatisfeita e prefere mudar. É esse é o caso do
Brasil?
É difícil dizer isso. Mas essa é uma tendência
natural no mundo inteiro. É como um técnico de futebol. Depois de um tempo,
você se acostuma com as vitórias e quer ter sempre. Na hora que tem uma
derrota, o pau quebra. Depois de quatro anos, depois de oito anos, as pessoas
se habituam com as conquistas. Querem outras. Na hora que elas sentem que
qualquer coisa mexeu, elas esquecem um pouco tudo de bom que elas ganharam.
Querem mais.
No plano nacional, o PT governa há 10 anos. Em São
Paulo, o PSDB governa há 20 anos. Há uma fórmula sobre como se dá a fadiga de
material na política?
Não tem essa fórmula. Se existisse, era muita
responsabilidade para quem lida com isso. Acontece que as pessoas querem mais.
E querem, às vezes, atitudes mais jovens. Querem reviravoltas mais importantes.
Ninguém pode deixar de dizer que o Brasil melhorou
muito nos últimos anos. Mas, essa melhora as pessoas assimilaram e querem mais.
Elas estão esperando que isso aconteça.
As pessoas sabem diferenciar o que foi a melhora
por conta dos 8 anos de Lula e o que foi a deste de período de dois anos e meio
da presidente Dilma?
Acho que nesse caso é uma coisa que dá seguimento à
outra -com outro estilo de governar. Os governos da presidente Dilma e do
presidente Lula foram uma sequência.
E isso tem vantagens. Não há uma interrupção.
Só que o eleitor hoje está muito mais sábio. Muito mais experiente, muito mais maduro.
Só que o eleitor hoje está muito mais sábio. Muito mais experiente, muito mais maduro.
Dê um exemplo.
Ah, ele [o eleitor] percebe tudo. Bobo é achar que
o eleitor é bobo. Na televisão, antigamente, quem batia no outro, eles [os eleitores]
aceitavam tudo. Depois descobriam que aquele que batia, que criticava, que
levantava críticas, ele era pior. Era pior do que quem estava sendo acusado.
Ele [o eleitor] entendeu que a televisão não é o
espaço para bater nem para agredir ninguém. É um espaço para se falar de
planos, de progresso.
Mas isso sempre foi assim...
...Não. Nas primeiras eleições diretas, quando a
televisão foi usada, as vitórias, quase todas, foram feitas à base de acusação,
na base de crítica, na base de denúncias que depois da eleição, às vezes,
acabavam não sendo reais.
Como é que a eleição funciona na cabeça das
pessoas? A mudança grande é que, antigamente, o formador de opinião era o
jornalista, era a imprensa, eram os artistas.
Hoje, a pirâmide se inverteu.
Por quê?
Porque quem forma opinião é o povo. É o igual.
Hoje, as pessoas acham que você encher a sua televisão de artistas não
funciona. Elas acham que aquele povo está ganhando dinheiro como um
profissional qualquer para fazer esse trabalho.
Hoje, quem influencia é o colega de trabalho, é o
marido, é a mulher, é o filho, é a escola. E qual é a função de uma campanha
hoje? É dar argumentos. Para mim, não é nada mais do que dar argumentos.
Para aquele que vai votar usar?
Se tem um que quer votar em você e tem outro que
quer votar em mim -e nós estamos no clube de futebol, ou estamos em um bar
tomando cerveja, ou no metrô-, eu começo a discutir com você. E esse cara que
vai votar em mim vai discutir com você e vai dar os argumentos dele. E o cara
que quer votar em você vai dar os argumentos para você. E aquele povo ali [ao
lado] está assistindo. São dois iguais dando os seus argumentos.
Naturalmente, aquele que tiver mais argumentos, que
convencer mais, vai começar a contagiar a população.
Se você tem um grupo e a pergunta é assim:
"Vocês conhecem um hospital que foi inaugurado lá não sei aonde?" As
pessoas: "Não, não conheço". Mas se um diz assim:
"Olha, eu tive uma tia que levou uma sobrinha
lá e funcionou muito bem". Na mesma hora contagia a todos.
Se essa informação sair no jornal, para o povão, não tem essa credibilidade toda. Para uma elite, tem.
Se essa informação sair no jornal, para o povão, não tem essa credibilidade toda. Para uma elite, tem.
E que papel tem a internet?
Cresce assustadoramente.
Mas ainda não tem o efeito que alguns achavam. Por
quê?
No ano retrasado, houve um modismo por causa da
eleição do [Barack] Obama [nos EUA] dizendo que a internet teve esse efeito
avassalador.
Nos Estados Unidos?
Nos Estados Unidos. Eu não concordo. Além de a
internet estar com um outro tamanho que agora no Brasil começou a ter...
Nos EUA teve esse efeito?
Acho que não. Eu vi uma palestra de uns
marqueteiros de lá. Na verdade, aquilo [candidatura de Obama] explodiu. Na hora
que explodiu, explode em todos os veículos.
A internet, como uma coisa grande, enorme, começou.
Mas o efeito dela foi muito mais receptor de dinheiro que eles usaram na
televisão. A televisão é, sem dúvida, o grande veículo para uma campanha
política.
Mas a internet cada vez mais cresce. Vai crescer e
até superar a televisão em algum prazo. Sobretudo, com um público jovem.
Mas em 2014 será decisiva?
Acho que cada vez tem uma fatia maior. Veja esta
própria entrevista. Antigamente, era só na Folha. Hoje, já vai ao
mesmo tempo para a internet. Outra coisa: o acesso às pessoas mais pobres.
Antigamente, isso era uma coisa de elite. Hoje, não. Hoje, todo mundo tem
internet. Todo mundo vê.
No plano nacional, a presidente Dilma Rousseff
aparece como grande favorita para ser reeleita. Esse cenário pode ser alterado?
O processo começou, mas ainda não tem carta marcada
para ninguém.
O que isso significa?
Duda Mendonça: Eu diria que pode ter surpresas em São Paulo.
Pode não ocorrer do jeito que as pessoas esperam exatamente no cenário
nacional. A presidente Dilma continua como a grande favorita. Aqui em São
Paulo, [Geraldo] Alckmin continua favorito. Mas ainda tem tempo. Há pessoas
novas chegando. Tem espaço para as pessoas discutirem. Quando abre a televisão
é que cada um tem a oportunidade de colocar os seus projetos.
Mas o que poderia tirar o favoritismo de Dilma
Rousseff?
Eu não tenho uma bola de cristal. Mas hoje há uma
inflação que é perigosa. Só que há tempo e as medidas podem ser tomadas. As
pessoas vão acompanhando.
Depois, vão surgindo pessoas novas. Dilma foi uma
pessoa nova. Pessoalmente, tenho um carinho por ela muito grande. Ela foi
corajosa, tomou medidas impactantes. Duras, mas que precisavam ser tomadas. Mas
num país como o Brasil, que tem muitos problemas, resolvem-se alguns e criam-se
outros.
A estratégia de Lula e Dilma é clara: um governo
popular que trata da população menos favorecida -e muito marketing. Essa é uma
fórmula eficaz e deve ser replicada?
Lógico. Eu acho que as pessoas, hoje, se
decepcionaram muitas vezes com muitos eleitos. Muitos governadores, muitos
prefeitos, muitos deputados, muitos senadores, muitos presidentes decepcionaram
o seu público com promessas que não se cumpriam.
Hoje, o povo é muito pragmático. "Melhorou
minha vida, eu estou com você. Não melhorou, eu estou com outro".
Qual é a principal marca de Dilma?
Os projetos sociais. A continuidade que ela deu, a
ampliação e as medidas ousadas que tomou. Por exemplo, a poupança, as
legislações dos portos, abaixar a conta de luz.
São medidas que atingem não só o povão. Atingem também as indústrias, as empresas.
São medidas que atingem não só o povão. Atingem também as indústrias, as empresas.
O Brasil evoluiu. A gente é muito exigente, é
óbvio. E tem que ser. A gente quer que o Brasil a cada ano vá melhor. Mas se
você olhar, assim, como era o Brasil há 50 anos e como é hoje, a gente andou
muito para frente.
Dos pré-candidatos a presidente de oposição, qual é
o mais apetrechado para tentar desafiar o PT?
A grande luta seria primeiro conseguir levar a
eleição para um segundo turno. Aécio Neves foi um governador de um Estado
grande. Fez um governo elogiado. Marina [Silva] é uma figura conhecida
nacionalmente. Defende muito as florestas. É uma pessoa simpática. E tem o
Eduardo [Campos] que, verdadeiramente, é o novo. Ele é um cara simpático. Fala
muito bem. Tem uma grande experiência. É um governador com um nível de
aceitação imensa. É um quadro que eu não tenho dúvida terá oportunidade.
Se não agora, no futuro.
Por outro lado, a Dilma vem fazendo o governo que
tem um limite de aceitação enorme. Essa oscilação agora não é significativa.
Ela pode cair, pode subir. Essas curvas acontecem.
Pode haver segundo turno?
Segundo turno para quem está no poder é
perigosíssimo. O segundo mandato deve ser ganho no primeiro turno. Se fica para
depois, é sinal de que não teve uma maioria substancial para vencer logo uma
eleição.
É um risco para a Dilma ir para o segundo turno?
Por quê?
Eu acho um risco para a Dilma. Mas um risco para o
Alckmin [também, nas eleições do governo de São Paulo].
Significa que não teve um nível de aceitação capaz
de ganhar no primeiro turno.
O Lula foi para o 2º turno e ganhou...
Não estou dizendo que não ganha. Mas o Lula poderia
ter ganhado no primeiro turno.
Não ganhou. Mas chegou bem lá e depois cresceu. O
que estou dizendo é o seguinte: que um presidente ou governador que está no
nível de popularidade que a Dilma está, e que o Alckmin está em São Paulo, e
que outros estão... A eleição tranquila deve procurar ganhar no primeiro turno.
É uma obrigação?
Nunca é obrigação. Mas eu acho que é mais fácil. No
segundo turno, passa a ter um risco. Para quem está hoje com 70% de
popularidade, não faz sentido não ganhar no primeiro turno. Significa que tem
alguma coisa que está mexendo aí.
Quem que representaria um risco maior para Dilma
num eventual segundo turno?
É difícil dizer. Mas... pela minha percepção é
Eduardo Campos.
Por quê?
Porque ele é realmente novo. Ele é a surpresa. O
Aécio já tem muito tempo aí. A Marina também. Já não são novidades. Eu acho que
o Eduardo é um sujeito que vem crescendo.
É ainda muito desconhecido da população. Mas
ninguém pode deixar de ver que ele é um cara competente, um cara preparado, um
cara jovem.
Seria um risco maior para a presidente?
Um risco maior. Eu acho.
Seria algo verdadeiramente mais novo?
Sem dúvida. Mas alguém também formado, competente e
com a visão muito semelhante. Se você olhar o governo dele, também é muito
voltado para as pessoas mais pobres. O Eduardo é alguém que vai ter muita
chance no futuro. É um político novo, simpático, fala muito bem, é um bom
administrador.
Se você perguntar o que eu acho que vai ocorrer,
acho que a Dilma tem muitas chances de ganhar. Até no primeiro turno. A não ser
que haja uma grande modificação. O que não significa que o Eduardo, na próxima
eleição, não seja um candidato muito forte.
Eduardo Campos ganha ou perde se lançando
candidato?
Acho que ele devia competir.
Em qualquer hipótese?
Em qualquer hipótese. Por quê? Porque chegar de
primeira, desconhecido, e ganhar uma eleição presidencial é muito difícil. Você
olhe que o Lula ralou em quatro eleições para poder ganhar.
Então você vai ganhando confiança. Quando alguém perde uma eleição e depois concorre novamente as pessoas dizem: "Esse cara ou essa moça tem alguma coisa para mostrar". Não é necessariamente uma derrota. É até uma prova de...
Então você vai ganhando confiança. Quando alguém perde uma eleição e depois concorre novamente as pessoas dizem: "Esse cara ou essa moça tem alguma coisa para mostrar". Não é necessariamente uma derrota. É até uma prova de...
...de persistência?
De persistência. [O Eduardo Campos] é um jovem. Tem
um caminho enorme pela frente. Como o Aécio também tem. Como a Marina também
tem.
O que acho é que o novo, realmente, hoje, é o
Eduardo. E é a surpresa porque é um novo que tem experiência.
Agora, o Brasil vem melhorando. É bom para o
Brasil, na minha cabeça, que a Dilma continuasse. Para mim, pai de sete filhos
e com sete netos, é bom que esse país cresça e evolua. Mas eu acho o Eduardo
Campos um bom nome.
Há notícias sobre o sr. como possível marqueteiro
de Eduardo Campos em 2014. O que acontece?
Nada. [risos]
Conversou com ele?
Não conversei com ele. Somos amigos de muito tempo.
Gostaria de fazer a campanha dele?
Não sei. Hoje, se você me perguntar assim:
"Você vai fazer campanha"? Essa é a resposta que eu não tenho. Estou
saindo do meu pesadelo, entrando em uma outra fase.
Tenho filhos e netos. Está na hora de começar a dar
um pouco mais de atenção à minha família. O meu trabalho aqui no Brasil e fora
é muito intenso.
Então, se você me perguntar: "O que você está
fazendo nesse momento?". Retomando a minha vida. Avaliando o que eu tenho
e o que eu não tenho. Agora eu não tenho a desculpa de dizer que faço campanha
porque não tenho alternativa. Agora, não. Vou saber o que quero verdadeiramente.
Aí vou tomar a decisão. Pode ser que eu faça campanha. Pode ser que eu não faça
campanha.
Quando um governante é muito bem avaliado é
impossível derrotá-lo?
A palavra impossível não é adequada. Mas é muito
difícil. Sobretudo, se ele tiver um trabalho correto. E porque as pessoas não
querem correr risco.
Então não há muito para a oposição fazer?
Eleição não é somente ganhar ou perder. Isso é uma
ilusão. Você não consegue, em um país como o Brasil, ou em um Estado como São
Paulo, como Bahia, como Minas [Gerais], de uma hora para outra ficar popular,
de uma hora para a outra ficar conhecido.
O [Paulo] Skaf teve 1% da eleição passada. Agora,
está com 16%. Na verdade, você tem um pilar, uma escada. O que eu acho
importante em uma campanha é sair melhor do que entrou. Se não der para ganhar,
OK. Mas você vai subir uma escada.
Dilma está cuidando bem da imagem?
Acho que está. Para mim, é desconfortável falar. O
trabalho dela está bom. Agora, até que ponto o João [Santana] pode dizer ou
fazer...? A imagem de marqueteiros tem sido muito ampliada. Você pode dar
conselhos. O presidente ou governador aceita alguns ou não aceita. Uns aceitam
mais. Outros são mais cabeça-dura. A presidente Dilma tem pulso firme. Pelo que
conheço dela, deve aceitar alguns e não aceitar outros.
Então, você não pode nem dar o mérito inteiro do
trabalho ao marqueteiro, mas também não dar a ele o ônus.
O PT, em abril, fez muitas propagandas na TV
assinadas por João Santana. O que achou?
O João é um bom profissional. É difícil você saber
não estando do lado de lá.
Os comerciais foram eficazes?
Eficaz é dar resultado. A propaganda não é feita
para se gostar. Achei que cumpriu uma finalidade. Na medida em que junta dois
ícones fortes e um governo popular, ela reforça a imagem dos dois [Lula e
Dilma].
Como o sr. faria?
É difícil porque não é adivinhação. Não é intuição.
A minha linha é emoção. A eleição passa por uma dose muito grande de emoção. A
escolha é como uma compra de uma casa. É como um casamento de um filho. É uma
coisa que mexe muito com as pessoas.
E é aí que a televisão ganha importância.
Tem uma coisa que as pessoas precisam entender. Existe forma e existe conteúdo. A forma é feita para ampliar a força do conteúdo. A primeira coisa que precisa ter é conteúdo. Se não tem, não faz mágica. Não tem forma. Mas com bom conteúdo, na televisão se faz o trabalho de emoção, de criar uma embalagem que valorize aquilo é muito importante.
Tem uma coisa que as pessoas precisam entender. Existe forma e existe conteúdo. A forma é feita para ampliar a força do conteúdo. A primeira coisa que precisa ter é conteúdo. Se não tem, não faz mágica. Não tem forma. Mas com bom conteúdo, na televisão se faz o trabalho de emoção, de criar uma embalagem que valorize aquilo é muito importante.
Falta emoção no marketing da presidente?
Não estou dizendo isso. Estou dizendo que a minha
linha é emoção. Em muitas campanhas se usa muito a razão. Outras usam a emoção.
Eu acho que não tem certo e errado.
Tem outra coisa que eu acho um equívoco. Comecei há
muito tempo a fazer as pesquisas qualitativas. E é uma ilusão. Como se a
pesquisa qualitativa fosse capaz de lhe dar o mapa da mina. Você a seguia,
botava lá e dava certo. Não é verdade. As pessoas não sabem o que querem...
Elas sabem o que não querem.
Você pega uma campanha média -feijão com arroz- e
mostra a um grupo. As pessoas gostam. Não incomoda, não tem nada ali. Mas uma
outra seria capaz de alavancar muito mais. Não foi mostrada.
Outra coisa: nem sempre a campanha vai funcionar na
hora que você mostra a primeira vez. As pessoas aceitam ou concordam. Lembro-me
das campanhas de [Paulo] Maluf [a governador de São Paulo, em 1990, e a
prefeito de São Paulo, em 1992], do coração. Eu fiz um teste de grupo. Levou
bomba. Eu não entendia por quê.
Isso nos anos 1990?
Ele [Maluf] é muito racional. Muito frio. Achei que
precisava de alguma coisa para dar uma dosagem de emoção. Quando testei no
grupo [qualitativo], as pessoas [diziam]: "Não, isso não é Maluf. Um
coração? Isso aqui em São Paulo? Um coração é a Lopes".
É que tem uma construtora que tem um coração que
pulsa [como logomarca] em São Paulo. Fiquei com aquilo na cabeça. Depois,
disse: "Vou correr o risco". Larguei a pesquisa e botei no ar. Um mês
depois, o mesmo formato de grupo estava adorando a campanha.
Aprendi uma lição. Às vezes, tem que contrariar
algumas tendências para poder aparecer. Às vezes, as campanhas ficam muito na
mesmice. Dizem as mesmas coisas.
Aí, não aparece. Se a pessoa já não era conhecida,
com discurso conhecido e previsível, nada acontece.
A boa comunicação em televisão, quando desliga,
fica na cabeça. Tem obrigação de deixar alguma coisa que mexa com você. Alguns
políticos perguntam: "O que você quer desse comercial"? Eu quero que
a pessoa, quando acabar de assistir, diga: "Gostei desse cara".
Pronto. O "gostei desse cara" traduz tudo o que eu quero. Não precisa
dizer "ele fala bem" ou "o plano de governo dele é bom. Ele é
simpático". Não.
As pessoas não sabem dizer "a fotografia está
bonita", "o paletó dele está bom", "ele tem um plano de
governo bom". Não. As pessoas, simplesmente, começam a criar uma empatia.
A simpatia vai se ampliando.
Aí vem uma coisa que é o sentimento mais perfeito:
a admiração. Porque a admiração agrega coisas que você nem sabe. Se você
discute o Ayrton Senna e pergunta: "Você acha que ele era bom filho"?
[A resposta é]: "Seguramente. Era um cara tão legal". Ou "será
que ele era um bom marido?" Você nem sabe. Podia até bater na mulher. [Mas
a resposta é]: "Ah, ele era um cara tão legal, tão simpático". [A
admiração] é um sentimento maravilhoso. Quando você consegue conquistar essa
imagem, isso é extremamente poderoso.
A admiração?
A admiração. Para mim, esse é o sentimento mais
forte que existe.
Como são seus negócios no exterior?
Em Portugal e na Polônia.
No Brasil, tenho uma Duda Propaganda. Agora, fiz uma aliança com a Black Ninja, do [Antonio] Lavareda] e do Benjinha [Benjamin Azevedo]. Estamos agora fechando. Cria várias unidades. Não só em São Paulo, como no Maranhão, Recife. E cresce. No lado de marketing político, não sei.
No Brasil, tenho uma Duda Propaganda. Agora, fiz uma aliança com a Black Ninja, do [Antonio] Lavareda] e do Benjinha [Benjamin Azevedo]. Estamos agora fechando. Cria várias unidades. Não só em São Paulo, como no Maranhão, Recife. E cresce. No lado de marketing político, não sei.
Na Polônia, o que é?
Propaganda. Na Polônia e em Portugal. É uma
história engraçada. Fui para Portugal quando a coisa aqui ficou meio ruim para
mim. Na verdade, ninguém queria dar uma conta a um marqueteiro que estrava em
um processo. A gente sofreu muito.
É uma rede de supermercados em Portugal?
O Pingo Doce. É a segunda maior rede de
supermercados, um grupo fortíssimo com 350 lojas. Chegamos lá, fizemos um
projeto ousado: pagar os nossos custos e ganhar no aumento da venda. O cliente
ficou contente. Fomos ousados. Deu certo. A gente está há quatro ou cinco anos.
Mesmo com toda dificuldade que Portugal atravessa
recentemente, tem sido um bom negócio para o cliente e um bom negócio para a
gente. Fizemos um nome em Portugal.
Ganhamos prêmios. Fui o publicitário do ano. Depois
eles perguntaram: "Dá para você criar isso na Polônia"? Eles têm
2.500 lojas. É o maior grupo privado da Polônia.
Supermercados também?
Também. Aí foi uma loucura. [Eu sou] baiano, não
sei falar polonês. [Imagine] criar música e campanha de varejo, que é uma
campanha popular, na Polônia? A gente deu conta do recado.
Quando o cliente perguntou: "Duda, você acha
que você dá conta? A sua turma da conta"? Eu disse: "Eu não sei.
Vamos tentar". Tentamos. Estamos lá já há dois anos.
Graças a Deus, cada dia melhor.
O marqueteiro João Santana, que trabalhou com o sr.
no passado, elegeu Lula em 2006. Em 2010, Dilma. Ele elegeu vários presidentes
no exterior: El Salvador, República Dominicana, Angola e Venezuela. O João
Santana é hoje o marqueteiro mais bem-sucedido da história recente?
Você que julgue [risos]. Eu não.
O João é um cara competente. Temos estilos
diferentes. O João é muito bom no conteúdo. Eu sou muito bom na transformação
do conteúdo em forma. Por quê? Porque a minha coisa é televisão. Eu sou
publicitário. Então, acho que o trabalho que nós fizemos juntos vários anos foi
muito bom porque era o efeito complementar.
Mas ele é um bom marqueteiro. Inegavelmente, teve
sucesso. Como você mede isso? É o sucesso. Eu fiz o meu trabalho. Grandes
vitórias, difíceis.
João Santana foi o publicitário de Fernando Haddad
na campanha pela Prefeitura de São Paulo. Houve críticas do PT, mas no final
deu tudo certo. O sr. teria feito algo diferente?
Duda Mendonça: Sempre acontece isso. Se não ganha: "Ah, a
culpa é da comunicação". Quando ganha, o mérito é do candidato.
A mídia endeusou, durante muito tempo, o
marqueteiro. As pessoas acham que tem gênio. Não é gênio. É um trabalho
técnico.
Na eleição para prefeito de São Paulo, houve algum
ruído?
Não acompanhei a eleição. Acho que uma campanha tem
altos e baixos. Quando fiz a primeira campanha do Lula...
...Em 2002?
Em 2002. Mais ou menos 30% que queriam votar em
Lula. Mais ou menos 30% não queriam. E 30% estavam na dúvida, tinham medo.
Durante um tempo, a gente entendeu que a rota era
tentar levar logo essa disputa para o segundo turno fortalecendo aquele núcleo
dos que tinham vontade de votar, mas tinham medo.
Isso não funciona de um dia para o outro. Dentro do
próprio PT, houve momentos que disseram: "Será que isso está dando
certo"? Porque Lula vinha em uma linha horizontal.
De repente, deu uma subida.
O PT, na época, não queria que o Lula fosse para o
debate. Eu disse: "Meu Deus, se as pessoas acham que o Lula não tem
preparo para ser presidente da República, como é que ele pode não ir a um
debate"?
É importante em um debate que se pare dois dias
para botar a cabeça no lugar. E chegou em um dia lá na reunião, vi o Lula
discutindo política econômica com o [Aloízio] Mercadante e com o [Antonio]
Palocci. Eu me assustei. [Pensei]: "Rapaz, se isso for gravado e botar no
ar, ninguém espera". Eu me assustei com o Lula discutindo política
econômica com eles dois. Ele ia para um debate com o [José] Serra e podemos
perguntar para o Serra sobre política econômica. Aí, teve gente do PT que
disse: "Mas, peraí. Aí o Serra vai se sair muito bem". Pois eu disse:
"É a obrigação do Serra. Agora, o Lula é que vai surpreender por ter a
ousadia de discutir com o Serra". E deu certo. Foi para o debate,
discutiu, basicamente, grande parte do debate sobre política econômica.
Não dá para você enganar. Ali não dá para fazer
pegadinha. Todo mundo tem uma discussão de nível. E o Lula se fortaleceu com
aquilo.
A tendência tem sido haver menos debates ou nenhum
debate no primeiro turno...
Eu tenho uma visão diferenciada. Acho que se fala
muito em diminuir a força do dinheiro nas eleições. O candidato que tem mais
dinheiro tem mais chance de ganhar do que o candidato que tem menos dinheiro.
A força grande é televisão. Por que não fazemos
debates com temas transmitidos por um pool de televisão? O candidato aluga um
paletó ou toma emprestado, tem uma pessoa que o assessore no que diz respeito a
vídeo e posição de câmera. Mas não dá para "maquiar" um cara. Não dá
para pegá-lo e modificá-lo para suportar um debate de uma hora, duas horas com
outros candidatos de nível.
Imagine se tivesse um debate por semana sobre um tema? Vamos discutir saúde. Vamos deixar um bloco pequeno para também o bate-boca se não fica muito sem graça. Nos debates, as formas estão muito enjauladas. Todo mundo vai buscando segurança do seu candidato. Eu também fiz isso durante muito tempo. Na medida que você vai buscando a segurança, e a televisão vai fazendo concessões, aquilo vai ficando enjaulado a um ponto que quase ninguém pode sair dali. Fica uma coisa chata. O horário também. O povo não assiste um debate às 11h, meia-noite. Devia ser 8h [da noite]. Imagine um pool de debate às 8 horas da noite?
Imagine se tivesse um debate por semana sobre um tema? Vamos discutir saúde. Vamos deixar um bloco pequeno para também o bate-boca se não fica muito sem graça. Nos debates, as formas estão muito enjauladas. Todo mundo vai buscando segurança do seu candidato. Eu também fiz isso durante muito tempo. Na medida que você vai buscando a segurança, e a televisão vai fazendo concessões, aquilo vai ficando enjaulado a um ponto que quase ninguém pode sair dali. Fica uma coisa chata. O horário também. O povo não assiste um debate às 11h, meia-noite. Devia ser 8h [da noite]. Imagine um pool de debate às 8 horas da noite?
A presidente Dilma, no ano que vem, deveria ir á
debates?
Depende muito da posição. Depende muito dela.
Depende muito do momento político. Se há necessidade. Em uma posição de
liderança... o bom senso diz que você não vai correr risco à toa. O debate é um
risco.
É um show: não é somente o que se diz que é
importante. É o jeito que você diz. O formato que você chega e se coloca. Tudo
isso é, no final, uma frase que você dá, de efeito. É o que fica para o debate
inteiro.
Se você está muito bem, em tese, é desaconselhável
ir. Mas, se você tem o que dizer, se o momento não é muito bom... É uma coisa
de técnico de futebol. Até nos bastidores, antes de o time entrar em campo,
depende muito do adversário.
O sr. está fazendo campanha ou cuidando da conta de
publicidade da Fiesp [Federação das Indústrias do Estado de São Paulo]. O que é
esse contrato?
Ganhei uma concorrência do Sesi e do Senai para
fazer duas campanhas específicas que já foram para o ar. E fui convidado pelo
[Paulo] Skaf. Fiz a campanha dele [a governador de São Paulo, em 2010]. Depois,
ele me pediu para me prestar uma assessoria à Fiesp. Eles queriam começar a ter
uma atuação maior. Ficar mais conhecidos. O que é a Fiesp? É um órgão que
representa a maioria das empresas em São Paulo e milhares de trabalhadores. E
tem -e deve, na minha opinião- de se pronunciar nos momentos mais importantes
da vida brasileira.
Agora sua empresa tem um contrato com a Fiesp?
Com a Fiesp.
Licitação também?
Não. No caso da Fiesp, não precisa de licitação.
É um contrato particular, mas os dados podem ser
divulgados?
Por mim, pode divulgar. Isso quem diz é o cliente,
mas eu não tenho segredo de nada.
Pode divulgar agora?
Não. Eu aconselharia você a perguntar a eles.
O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, é também
político e deseja ser candidato a governador de São Paulo. Há um conflito de
interesses nesse caso?
Acho que não. Você pode olhar sob a ótica de que há
um conflito, e você pode olhar sob a ótica de que não há um conflito.
Por que não haveria?
Porque participar da vida política nacional e dar
depoimentos e opiniões sobre regras, leis e projetos da presidente da República
é uma coisa que não se pode botar um garoto como apresentador. Não pode botar
um ator para dizer aquilo. Aquilo é a visão oficial de uma entidade como é a
Fiesp.
O Paulo aparece na qualidade de presidente e
porta-voz daquela organização. Ele defendeu grandes mudanças que tem
beneficiado o Brasil. A Fiesp capitalizou muito e ele também. Não acho um
conflito. Poderia fazer o quê? Bota quem ali? Um garoto propaganda, um ator?
Não tem peso. Eu já fiz isso com loja de varejo. Você coloca o dono da cadeia
de varejo falando sobre uma liquidação e se comprometendo abaixar os preços tem
uma credibilidade muito maior. Por quê? Porque ele é o presidente. Então nesse
caso ele [Skaf] falando pela entidade tem um peso muito maior. Ele apareceu
mais, ficou mais conhecido, ficou mais respeitado.
Essa sua relação com a Fiesp se sobrepõe à relação
política para a eleição de 2010?
Não há nenhuma ligação. A ligação existe assim: eu
sou o mesmo. Mas a minha empresa não faz marketing político. Tanto que estou me
associando ao Lavareda. São duas coisas inteiramente diferentes.
Em 2010 a campanha do Paulo Skaf a governador foi
cuidada...
Duda e uma equipe.
Pela sua equipe.
Por Duda e uma equipe. Porque na verdade eu não
tenho uma equipe grande, fixa.
Notas na mídia sugerem que dessa campanha de 2010
sobrou uma dívida grande. Ficou uma dívida com a sua empresa?
Uma campanha que não ganha tem dificuldades
financeiras. Nada que não se possa, de comum acordo, equacionar e cumprir. Ele
[Skaf] cumpriu, o PMDB cumpriu todos os tratos comigo que estavam em contrato.
As minhas dívidas foram pagas.
Skaf apareceu no mês de junho, no Datafolha, em segundo
lugar nas pesquisas para governador de São Paulo. Quais as chances reais de
ele, a partir desse patamar, progredir ou não?
Ele é um competidor forte para a eleição de
governador. Até onde vai, infelizmente, não dá para prever. Ele saiu de 1% [em
2010], tinha um minuto na televisão. Chegou a 16% [agora]. A Fiesp cresceu
muito.
O trabalho que fizemos, modéstia à parte, tornou o
Sesi e o Senai muito mais conhecidos. Não só conhecidos, como agregados à
Fiesp. As pessoas não agregavam.
Tudo isso que ajuda a Fiesp valoriza seu presidente.
Tudo isso que ajuda a Fiesp valoriza seu presidente.
A fadiga material do PSDB no Estado de São Paulo
existe de fato ou isso é uma lenda?
É difícil radicalizar. Acho que o Alckmin está aí
com um nível satisfatório. Depende muito do fim do governo, a hora de aparecer
o trabalho. Está na hora de ele botar o bloco na rua e dar conteúdo às coisas.
No PT, muitos acham que chegou o momento de o
partido ganhar o Estado de São Paulo. Qual que é sua avaliação sobre isso?
Acho que a eleição de São Paulo vai ser uma eleição
muito complicada. Do jeito que eu estou enxergando, a não ser que haja grandes
mudanças, ela vai ser uma eleição muito complicada.
Em que sentido complicada?
Todos. Por exemplo, o PT é um partido forte. Tem a
candidata a presidente mais forte. O Alckmin mostrou que é bom de eleição, na
outra eleição ele conseguiu ganhar e agora continua num patamar muito alto,
apesar de ter problemas políticos, problemas de segurança, problemas agora de
aumento de ônibus. Mas ele vem se mantendo. Por outro lado, tem o Skaf, um nome
novo e que vem crescendo e ganhando uma posição.
Surpreendeu no Datafolha Geraldo Alckmin ganhar com
larga margem de vantagem até contra o ex-presidente Lula?
Não. Acho que as pessoas, agora, não entendem que
Lula possa ser candidato ao governo de São Paulo. Pesquisa é um retrato de um
momento. Se o Lula resolver se lançar, o patamar dele não é aquele. O patamar
dele é mais alto. Agora, é preciso que ele, ao se lançar, faça uma campanha.
Acho que nem gente do PT acredita que ele seria candidato. Se ele eventualmente
for, acho que ele é um candidato forte. Imagine uma chapa Dilma candidata a
presidente e Lula governador de São Paulo? É uma chapa fortíssima. Quem sabe se
ele não vai sair? Não sei. Tem aí ainda muitas interrogações.
É muito importante para o PT tentar ganhar. E o
PMDB? O que diz o PMDB? O que parece é que vai ter candidato próprio. Mas como
é que fica no segundo turno, se tiver segundo turno? Há muitas composições e
todas elas, se você olhar, começam com tempo de televisão. Por quê? Porque ali
é o mapa da mina.
O que vai ser do PT numa era pós-Lula e
eventualmente pós-Dilma?
Não sei. O PT já teve momentos maravilhosos. Já
teve momentos críticos, difíceis. Depois, ninguém esperava que Dilma chegasse
ao ponto que ela chegou. Ela é uma pessoa muito segura, dura até, mas que é uma
pessoa diferente do Lula. Sem dúvida nenhuma, o Lula é mais o político, o que
conversa. Ela é mais decidida. E foi uma surpresa para o brasileiro. Mas teve
acertos. Tanto que está no patamar que está.
Outro dia na TV teve a propaganda do Partido Social
Cristão, o PSC, que cresce a cada eleição. Pretende agora lançar um candidato a
presidente, o pastor Everaldo, com valores religiosos, conservadores, da
família. Há espaço no Brasil para esse tipo de força crescer?
Lógico que tem.
Por que nunca cresceu?
Porque nunca teve a força que tem hoje. Mas eles
vêm crescendo a cada ano que passa. Não sei se vai ganhar, mas a bancada que
eles têm hoje de deputados, de vereadores, é muito grande, ainda não chegaram
na majoritária, mas eles vêm crescendo.
Uma campanha a presidente, com o pastor Everaldo
como candidato, terá na faixa de 1% a 2% dos votos ou mais?
Depende dele. Depende de tempo de televisão,
basicamente para ele poder aparecer.
Terá pouco tempo, pois não é um partido grande...
Acho que ele terá uma influência na eleição. Num
segundo turno vai ser extremamente procurado.
No primeiro turno ele tem potencial para ter
quanto?
Diria que no mínimo 5%.
Tudo isso?
Porque o universo de evangélicos no Brasil hoje
cada vez cresce mais, em qualquer lugar.
Mas eles não votaram em Marina Silva na última vez?
Não sei. É difícil dar um parecer de uma coisa que
você não tem número, não tem pesquisa. Os evangélicos hoje são uma força. E
eles têm uma coisa: jogam junto. Você vê de repente um deputado, que ninguém
sabia quem era, sair como o mais votado, sai como o segundo mais votado. Eles
são uma forca. E uma força coesa.
Eles são bons oradores. Porque eles falam muito,
têm habilidade de dicção. Falam a linguagem que o público deles quer.
Será um ator relevante?
Um ator. Eu não sei se relevante, mas não um ator
lá de baixo não. Eu acho que sobretudo num segundo turno o apoio dele [PSC e
evangélicos] vai ser muito disputado.
Marina Silva em 2014 pode não repetir o desempenho
de 2010?
Ela não vai ser nesse ano a novidade que foi
naquele ano. Mudou. Ela ficou ausente muito tempo. Tem atores novos nesse novo
espetáculo. É difícil de você dizer. Acho que muita gente gosta dela. É uma
pessoa fantástica, humilde, direita, tem trunfos enormes. Acho que ela vai ter
uma participação relevante, mas não acho que atingirá o patamar do ano passado.
O sr. foi absolvido pelo Supremo Tribunal Federal
no processo do mensalão. Seus bens recentemente foram desbloqueados. Como está
se sentindo?
Meus verdadeiros bens nunca foram bloqueados. Minha
família, meus filhos, meus netos, minha mulher, meus amigos. O que aconteceu
com o bloqueio de meus bens foi uma coisa muito moral em cima de mim. O que é
que eu fiz?
Passei uma pena muito grande. Serviu de
experiência. Eu me perguntei muito:
"Por quê?".
Que resposta encontrou?
Algumas coisas eu amadureci. Outras ainda vou
amadurecer. Neste momento, a tempestade passou. É sacudir a poeira, dar a volta
por cima. Não vou falar sobre mensalão. Acho que o Supremo... A lei é lei. No
máximo, posso dizer que às vezes demora, mas acontece. No meu caso, fui
justiçado e tenho que me sentir contente com isso, com meus advogados e com os
juízes que me julgaram.
Não tenho nada a reclamar. Sofri no momento de
sofrer. Mas passou. Agora é a volta por cima.
Olhando em retrospecto, o sr. se arrepende de
alguma coisa nesse episódio do mensalão?
Essa é uma dúvida que só vou esclarecer mais para a
frente. Tive tempo para refletir. Não posso dizer ainda. Às vezes, você tem que
digerir com o passar do tempo. Tem um livro que comecei a escrever perguntando:
vale a pena falar a verdade ou não vale a pena falar a verdade? Houve um tempo
que o título certamente seria não vale a pena falar a verdade. Hoje,
sinceramente, está bem equilibrado.
Se o sr. não tivesse decidido espontaneamente falar
naquele dia na CPI, em 2005, talvez muita coisa não tivesse acontecido...
Quem sabe? Eu não gosto muito de olhar para trás.
Tenho um temperamento muito otimista. Olho muito para a frente. Acredito muito
nas forças do universo.
Acredito que de alguma forma talvez estivesse
escrito na minha história que eu tinha que passar por isso. O que me perguntei
sempre é: por quê? E o que devo aprender com isso? E agora, qual é essa lição
toda, com tudo que aconteceu, o que devo fazer daqui para a frente? Essa é
minha preocupação.
Daqui para trás, não. Daqui para trás, aconteceu.
Não tem jeito.
Graças a Deus, levantei de cabeça erguida. Meus
filhos estiveram do meu lado o tempo todo.
Encontrou alguma resposta?
São respostas muito profundas. Hoje, não estaria
pronto, sobretudo para falar na televisão. São coisas muito íntimas que tenho
refletido e ainda tenho muito a refletir.
Até o mensalão, sua carreira profissional era muito
bem-sucedida. Se não tivesse acontecido o mensalão, o sr. teria participado das
eleições do presidente Lula, em 2006, e talvez da campanha de 2010. Tudo isso
acabou ficando fora do seu horizonte...
Se olhar por esse lado, eu podia ter feito a minha
operação e ter morrido. Não precisaria ir a Portugal e não enfrentar o desafio
que foi na Polônia. As coisas às vezes acontecem. Eu acho que tive uma família
muito mais agregada, meus filhos chegaram muito mais para perto de mim.
Sofremos todos juntos e isso uniu mais a família, preparou muito mais os meus
filhos.
O sr. era muito próximo do então presidente Lula.
Depois do mensalão, voltaram a se falar?
Não, eu acho...
Nunca mais?
Não, nunca mais. A vida distanciou a gente. Não
é... e é normal. Naquele momento, ele seguiu o caminho dele. Eu segui o caminho
que restou para mim. Continuo admirando-o, continuo admirando o trabalho que
ele fez, acho que é uma pessoa popular, cumpriu as promessas. Fazer a campanha
dele para mim foi um marco. Sou conhecido no mundo inteiro como o cara que fez
a campanha do Lula.
Mas nunca mais conversou com ele?
Não houve oportunidade. Quem sabe um dia a gente
não senta e...
Gostaria de ter essa oportunidade?
Se ele tivesse oportunidade e gostasse de sentar
comigo para conversar. Se houver um momento em que a gente possa sentar, bater
uma bola, tomar uma cerveja, nem que seja conversando sobre política, é óbvio
que eu gostaria. Mas não basta eu gostar. Precisa ele gostar também. A vida
dele levou para um rumo, a minha levou para outro.
Lula ficou magoado naquela época. Naquela semana do
seu depoimento, sem falar seu nome, ele falava em traição...
Acho que nunca ele falou que eu o traí. Primeiro,
não é verdade. Eu não traí ninguém. Não é do meu feitio. Não é do meu caráter
trair ninguém. Ao contrário. Fui lá e falei a verdade. Isso não é trair. Eu
falei exatamente o que aconteceu, tanto que fui fiscalizado e o que descobriram
foi exatamente o que eu falei. Eu recebi o meu dinheiro, eu tinha um contrato.
O que que há? Eu ia deixar sem receber? Então, não. Falei o que devia falar.
Agora, sabe, acho que no meio de tudo isso, no
Planalto, tem muita gente que gosta daquele bochicho, daquele fuxico. Não sei o
que chegou ao ouvido do presidente. De alguma forma é possível que ele não
tenha gostado das coisas que falei. Como é possível que eu também não tenha
gostado de outras coisas que ele falou. A vida é assim: eu continuo o
admirando. O destino quis que a gente se separasse. Mas eu torço por ele.
Quando ele ficou doente, fiquei muito preocupado. Torci por ele, rezei por ele.
Torci pela vitória da presidente Dilma.
O sr. teve um contato uma vez com a presidente
Dilma. Apresentou um jingle. O que houve?
Houve um momento, no começo da eleição [de 2010].
Tive uma conversa com ela. A oportunidade poderia ter surgido, mas na verdade
acabou não surgindo. Era difícil naquele momento se agregar um lado com outro.
Se eu fosse naquele momento fazer a campanha dela, haveria o mensalão todo, eu
era réu do mensalão. Então aquilo era uma vulnerabilidade real. Não aconteceu e
acho que não deveria ter acontecido mesmo. Foi melhor que eu não fizesse.
Foi o único contato que teve com ela nesses anos
todos?
Foi o único contato.
E não teve nenhum interlocutor de Lula esses anos
todos que tentou aproximá-los?
Não. Não tinha porquê. Tenho amigos que são amigos
dele, que continuam amigos, mas a coisa política seguiu por outro rumo. Não
houve um motivo. Acho que João [Santana] preencheu essa lacuna. Vem se
mostrando competente. Então, acabou.
Às vezes o sr. pensa nisso?
Já pensei mais. Hoje, não.
Pensava como?
Já pensei sobre... Puxa vida, foi interrompido um projeto. Mas por outro lado, é engraçado... Eu tenho 68 anos. A minha postura hoje, toda essa turma de marketing, se você tirar em cada 100, você tira 5, todos começaram comigo. O João [Santana] eu não posso dizer que começou comigo, mas nós crescemos juntos. Acho que ele virou um pouco publicitário, e eu virei um pouco jornalista. A gente aprendeu juntos. Mas muita gente foi formada por mim.
Hoje me vendo como um cara que criou uma geração de marketing político, uma nova profissão. Me passa pela cabeça até começar, quem sabe, fazer um curso disso.
Estou muito mais hoje na posição de fazer coisas. Acho que está na hora de eu pegar campanhas culturais. Tenho vontade de fazer filmes. Gosto de fazer música. Meus jingles todos eu que faço. Fiz a música do motel, que [Maria] Bethânia gravou, aquela [cantando] "de repente eu fico rindo à toa sem saber por quê"... E virou música, até tema de novela. Esse é um caminho... Não vou ficar sem fazer nada. Hoje, crio cavalo, crio boi, escrevo, faço festa, faço aniversário de neto, faço campanha na Polônia. Eu não paro. Então minha vida vai boa. Estou feliz. O saldo de tudo isso: eu amadureci muito, porque o saldo é bom.
Nessa novela do mensalão, acabou tudo ou ainda vão
aparecer detalhes?
Acho que não. Já foi muito futucado.
Da sua parte, acha que vai contar algum detalhe que
tenha faltado?
Não, até porque não gosto de olhar para trás. Para mim, passou. E passou tudo, o bom e o ruim. Tudo. Agora, é bola para frente. A Copa do Mundo passada passou, o que interessa é a futura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
SEU COMENTÁRIO SERÁ VISTO E PODE SER APROVADO PELO REDATOR DESTE BLOG.