»entrevista» José Agripino -
presidente nacional do DEM
O senhor fala de uma possível candidatura à reeleição da
governadora Rosalba Ciarlini. Mas essa unidade partidária que o senhor prega
estaria disposta a caminhar com outra candidatura ao Governo que não a de
Rosalba?
Eu acho que
política, para ser feita com responsabilidade, necessita de pragmatismo. Eu
tenho certeza de que se a governadora, que é minha candidata à reeleição,
enxergar que não terá condição, será a primeira a abrir mão dessa pretensão.
Apenas os aliados, neste momento, apostam no fortalecimento dela como
candidata. Mas, tenho a impressão de que ela própria viria a fazer a avaliação.
Se não tiver condição de reeleição, será a primeira a declinar da possibilidade
de candidatura, sabendo, como sabe, que o PMDB, Democratas, o PR, PMN, o PP,
todos torcem pelo sucesso dela.
O senador e presidente nacional
do DEM acredita que Dilma não tem favoritismo para disputar eleições no ano que
vem
Há quem diga que o deputado
federal Henrique Eduardo Alves estaria se habilitando para ser candidato a
governador. O senhor acredita nisso?
Não é o que ele
me tem dito. Agora Henrique Eduardo está hoje em uma posição de relevo nacional
e, pela postura, que tem adotado, permanentemente, de lutar pelos interesses do
Rio Grande do Norte. Claro que estaria habilitado a disputar qualquer posto na
política do Estado.
E quanto ao prefeito Carlos Eduardo, como o senhor vê a posição
dele para o pleito 2014?
Acho que Carlos
Eduardo vai querer cumprir o mandato dele de prefeito. Está enfrentando
dificuldades no começo da administração. Não creio que ele venha a se
habilitar, não vai ter condição de, neste ano, construir coisas que o habilitem
a uma disputa ao Governo do Estado, mas o tempo dirá.
Quem acompanha a cena política observa que a governadora Rosalba
Ciarlini postula a reeleição, a deputada federal Fátima Bezerra quer o Senado,
o vice-governador Robinson Faria almeja o Governo. Mas de onde vem o candidato
a senador da bancada governista?
Veja bem: temos
dentro da nossa aliança nomes compondo uma chapa para o Governo e Senado
tranquilamente. São nomes de qualidade. O candidato a governador ajuda o que
disputa o Senado e como o candidato a senador ajuda o candidato a governador.
Essa é uma chapa solidária. Nomes de qualidade, a nossa aliança tem vários,
tanto para disputar o Governo como para disputar o Senado. Acho que numa chapa
bem montada, um ajudará o outro na perspectiva de vitória.
Neste momento, a tendência hoje
é Rosalba ser candidata à reeleição?
Pela legislação
atual, a reeleição é permitida. Em sendo permitida é um direito dela e esse
fato se põe de forma natural.
Ou seja, a prioridade na lista de candidatos ao Governo...
É cumprir a lei.
Mas a governadora Rosalba não reverteu os índices de desaprovação.
Estamos há pouco mais de um ano da eleição. Não tem pouco tempo para ela se
viabilizar?
A governadora
Rosalba tem enfrentado enormes dificuldades, mas se há uma coisa que a
população preza é o padrão ético do político. Rosalba pode ter dificuldade na saúde,
na segurança. Mas do ponto de vista da honestidade, não há nenhuma mácula na
postura dela. Isso é cláusula pétrea no julgamento do eleitor. O eleitor quer
eficiência e sabe que eficiência você faz quando tem meios para fazer. Mas se
você não for honesto, não tiver garra, você não tem o conjunto de
matérias-primas para exercer o bom governo. Esse conjunto Rosalba tem. O que
ela precisa é de meios e esses meios, nós aliados, estamos procurando dar a
ela. Como isso está em curso, é possível que chegando esses meios, com a
matéria-prima de que ela é proprietária, pode se reviabilizar como candidata
altamente competitiva.
O senhor é um crítico contundente da presidenta Dilma Rousseff.
Gestão que é elogiada por Rosalba Ciarlini. O senhor não se sente incomodado de
sua aliada elogiar o Governo do qual o senhor é oposição?
Rosalba tem a
obrigação de buscar os meios para viabilizar a administração dela. Agora quem
fez a avaliação dos governos do PT, não é Dilma, não é Lula, são dez anos de
Governo. Os movimentos de rua fizeram avaliação dos dez anos de governo. Tudo a
que as pessoas que foram para a rua fizeram restrição é produto do Governo do
PT. É a postura de dez anos de Governo. O povo não admite pagar imposto e
ter serviço público de má qualidade. Esses movimentos de rua são avaliação
claríssima do Governo do PT. As críticas que fazemos coincidem com o que as
pessoas trazem nas ruas.
Qual a leitura que o senhor faz das ruas neste momento de
manifestações?
Se imaginava até
semana passada que o Brasil vivesse um governo hegemônico com uma campeã de
popularidade que era a presidente da República (Dilma Rousseff) e que comandava
a maioria dos partidos políticos que obedeciam cegamente a orientação do Poder
Executivo. De repente um movimento de insatisfação, especificamente,
tipicamente a questão do preço das passagens, fez com que um instrumento
chamado internet, redes sociais, que conseguiu reunir 1,5 milhão de assinaturas
para pedir a não posse de Renan Calheiros (na presidência do Senado), se não
conseguiu impedir a não posse de Renan, foi capaz de fazer a convocação a
pessoas que foram ocupar o espaço público da rua para no primeiro momento
protestar contra o aumento do preço das passagens que simboliza neste momento a
questão da inflação. Mas as pessoas foram para as ruas por dezenas de razões,
que estavam guardadas, apesar da hipotética hegemonia do Governo com sua campeã
de popularidade, com o comando dos partidos políticos. E essa hegemonia se
desmanchou em três movimentos que ocorreram de uma série de 20 ou 30 que estão
em curso.
Com isso muda o jogo para a sucessão presidencial de 2014?
Está zerado.
Acho que esses movimentos mostraram que não há hegemonia de ninguém. Primeiro
de tudo que a agenda da sociedade não está sendo compreendida nem pelo Governo
e nem pelo Poder Legislativo. Nenhum dos dois. E o Governo não está
sintonizado. A população passou claramente o recado: de que adianta baixar IPI
de carro se as ruas estão entupidas, de que adianta baixar IPI de carro se o
transporte de qualidade que são os metrôs andam devagarinho. Não é que o
brasileiro não queira a Copa, mas entre gastar dinheiro com a Copa e gastar dinheiro com
saúde, educação, segurança, o brasileiro mostrou claramente que é um
desperdício do Brasil gastar com uma coisa que não é a prioridade para os
brasileiros. Esse recado foi dado e por essa razão acho que a hegemonia, a popularidade
e o favoritismo da reeleição da presidente Dilma foram abaixo com os movimentos
de rua.
José Agripino
foi prefeito de Natal, governador do RN e, atualmente, exerce pela quarta vez o
mandato de senador
Então há novas perspectivas para a oposição ao Governo Federal?
O jogo está
nivelado, zerado e quem souber atender as expectativas da sociedade se colocará
bem no jogo. Quem tiver a capacidade de colocar com credibilidade para
não prometer, mas para tomar atitude real e começar a fazer, vai se situar bem
no novo jogo da sucessão presidencial de 2014.
Nesse foco, a sucessão de 2014, o DEM está fechado com o PSDB?
O Democratas não
está fechado com ninguém. O Democratas tem convivência harmoniosa com o PSDB,
mas está muito longe de ocorrer a sucessão e montagem de aliança. Se você
perguntar se o Democratas tem simpatia com o PSDB, digo que tem. Mas também
temos simpatia por outras candidaturas. Será resolvido na hora oportuna, no
começo do próximo ano.
O senhor vê possibilidade da oposição se reunir em torno de um
novo nome, como o PSB de Eduardo Campos?
Os novos tempos,
com a nova agenda, será capaz de produzir diálogos que até a semana passada não
fossem nem imagináveis.
O seu nome já chegou a ser lembrado como possível candidato a
vice-presidente da República. Para 2014, qual o projeto político do senador
José Agripino?
Primeiro ajudar
o Estado do Rio Grande do Norte. Temos uma convivência política harmoniosa com
o PMN, com o PP, PR, PMDB e com outros partidos em torno do Governo de Rosalba
que começa a esboçar sinais de reação, veja esse programa anunciado de quase R$
1 bilhão para saneamento básico. Se ela demonstrar realmente capacidade de se
posicionar bem perante o eleitorado, ela será minha candidata e poderá ser
candidata desse arco de partidos que na hora h se manifestarão. Cada qual
falará por si. Mas há entendimento entre nós. Minha prioridade será encontrar o
melhor caminho para o Rio Grande do Norte.
Mas insisto na pergunta: O senhor admitiria hoje ser candidato a
vice-presidente da República?
Eu fico honrado
com essas lembranças que surgem. Isso é por uma razão compreensível. Imaginam
que o Democratas vá compor uma chapa com o PSDB, o candidato do PSDB é
claramente Aécio Neves e imaginam uma figura do Democratas e que teria que ser
nordestino. Como sou presidente do Democratas, é uma suposição quase por via de
consequência. Agora entre a suposição e a realidade há uma distância enorme e
quero dizer que essa não é a minha preocupação.
Fonte: Tribuna do
Norte